Epilepsia e Atividade Física

Prof. Ricardo Mario Arida
Departamento de Fisiologia - UNIFESP
Disciplina de Neurofisiologia e Fisiologia do Exercício


O exercício físico é geralmente aceito em contribuir para a saúde em geral, mudanças positivas no estilo de vida, melhora do humor, qualidade de vida e redução da ansiedade e depressão. Portanto, efeitos positivos fisiológicos e psicológicos observados depois de um programa de treinamento físico são bem documentados. Apesar do efeito favorável da atividade física sobre a saúde ser inquestionável, programas de exercício físico para pessoas com epilepsia foi assunto de controvérsia por muito tempo. Atualmente, com resultados promissores de trabalhos científicos, a indicação do exercício físico orientado é mais frequente. Veja adiante, algumas recomendações de atividades físicas ou esportivas para pessoas com epilepsia.

Uma atitude superprotetora em relação às pessoas com epilepsia normalmente evita sua participação em atividades esportivas. Esta relutância dos indivíduos com epilepsia e de seus familiares é normalmente devida, em parte, pelo medo de que o exercício poderá causar crises e, em parte, pelo medo de ocorrência de lesões durante o exercício.

Pessoas com epilepsia podem ter os mesmos benefícios de um programa de treinamento físico que qualquer outra pessoa: aumento da capacidade aeróbia máxima, aumento da capacidade de trabalho, freqüência cardíaca reduzida para um mesmo nível de esforço, redução de peso com redução de gordura corporal e aumento da auto-estima.

Estudos em humanos têm sugerido que o exercício físico aumenta o limiar de crises, conferindo um efeito protetor para os indivíduos com epilepsia. Outros experimentos mostram que o exercício físico reduz a atividade epiléptica no EEG, reduzindo o número de crises em muitos pacientes durante a atividade física, as quais retornam durante o período de repouso. Tem-se observado que estas pessoas estão propensas a desenvolverem menos crises quando estão ativamente ocupadas e que poucas crises ocorrem durante a atividade mental e física, quando comparadas com períodos de repouso.

Apesar da literatura científica mostrar a influência do exercício físico na redução de crises epilepticas, em casos específicos, o exercício físico pode aumentar a susceptibilidade as crises. Fatores como o estresse, a fadiga, a hipóxia, a hiperhidratação, a hipertermia, a hipoglicemia e hiperventilação têm sido presumidos em influenciar ou provocar crises durante atividades esportivas ou exercício físico, apesar desta relação ser meramente especulativa.
Neste sentido, a maioria dos dados na literatura têm relacionado a epilepsia e a atividade física através de estudos epidemiológicos ou avaliação física. Ainda, poucos estudos avaliam esta relação depois de um  programa de treinamento físico. Até pouco tempo, não havia na literatura científica estudos abordando este assunto em modelos animais de epilepsia. Trabalhos experimentais têm mostrado  efeitos benéficos do exercício físico na epilepsia do lobo temporal.
Algumas dúvidas são freqüentes entre as pessoas com epilepsia, como: O indivíduo com epilepsia pode fazer atividade física? Isto vai depender do grau de controle de suas crises e da liberação de seu médico para iniciá-la.
Cada paciente é único em relação ao tipo, freqüência e severidade de suas crises. É importante que o médico esteja interado sobre as diferentes atividades esportivas para poder indicar o melhor esporte.
A prática esportiva, infelizmente, não é possível a todos os indivíduos com epilepsia, particularmente aos que sofrem crises graves e freqüentes com comprometimento neurológico importante. Para muitos esportes, o risco na sua participação não é documentado. Portanto, é necessário ter cautela na indicação ou contra-indicação da atividade esportiva para o indivíduo com epilepsia.

Alguns autores consideram que quase todas as atividades esportivas são adequadas para portadores de epilepsia que apresentam 1 a 2 crises por ano. Entretanto, as principais organizações médicas como a Academia Americana de Pediatria e a Associação Médica Americana têm mudado seus conceitos em relação à participação de esportes de uma forma muito mais liberal.
Apesar disso, é importante observar que cada indivíduo deve ser considerado separadamente. A tabela 1 mostra os esportes contra-indicados e com algumas restrições para indivíduos com epilepsia. Outra pergunta freqüente é em relação ao melhor exercício físico para pessoas com epilepsia. O exercício físico adequado para estas pessoas é o exercício físico recomendado para qualquer indivíduo que prática atividade física para a melhora da saúde de forma geral, isto é, o exercício aeróbio. Estas atividades incluem caminhada, corrida, natação, ciclismo ou qualquer atividade em que o indivíduo possa mante-la por um período mínimo de 15 a 20 minutos (intensidade baixa e de longa duração).
Conhecendo todas as ações benéficas do exercício físico na epilepsia, parece justificável encorajar a maioria das pessoas com epilepsia a participarem de um programa de exercício físico regular com um considerável impacto na qualidade de vida destas pessoas.

Tabela 1